IMPACTO DA APLICAÇÃO
DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO (TICs) NO FUNCIONAMENTO
DAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS

LINDA CARLA VIDAL BULHOSA GOMES *
linda@teclim.ufba.br

MARILENE LOBO ABREU BARBOSA **
marilene@ufba.br

INTRODUÇÃO

Neste trabalho faz-se uma reflexão sobre as mudanças e inovações ocorridas nas bibliotecas universitárias brasileiras, a partir da introdução e do uso intensivo das tecnologias de informação e comunicação (TICs). Averigua-se se as TICS provocaram a reorganização e reestruturação das bibliotecas universitárias, levando-as a desempenhar com mais eficiência seu objetivo, por meio da melhoria de prestação de serviços informacionais de qualidade ao usuário acadêmico em face da disponibilização de novos métodos e processos de trabalho.

A abordagem metodológica utilizada para estudar o tema proposto baseou-se no delineamento do cenário no qual se inserem as bibliotecas universitárias. Procurou-se capitalizar o levantamento dos principais fatores externos e internos que influenciaram o desenvolvimento da universidade, e conseqüentemente, das bibliotecas universitárias, por meio de:

a) Fundamentação teórica, objetivando traçar o contexto das bibliotecas universitárias pré e pós-automação, tendo sido relevante levantar as recomendações assinaladas desde a Reforma Universitária de 1968-1969, passando em 1973 pela criação da Associação Brasileira de Bibliotecas Universitárias (ABBU), em 1978, pela instalação dos Seminários Nacionais de Bibliotecas Universitárias (SNBU) e, em 1986, pela criação do Programa Nacional de Bibliotecas Universitárias (PNBU);

b) aplicação de entrevistas com profissionais da informação que acompanharam o processo de mudanças e inovações ocorridas nas bibliotecas selecionadas (UCSal, UFBA, UNIFACS, UEFS, UESC, UESB, Fundação Visconde Cayru), por serem estas as institui


ções de ensino superior mais antigas do Estado da Bahia e por terem vivenciado os momentos pré e pós-automação.

O estudo parte do princípio de que a missão da biblioteca universitária é prover, disseminar e transferir informação de modo a viabilizar a atuação plena da universidade na promoção do ensino, pesquisa e extensão, por meio da oferta de cursos de graduação e pós-graduação, produção e transferência de conhecimento e de tecnologia.

Conclui-se que as bibliotecas universitárias atuais têm sofrido profundas mudanças de paradigmas a partir da aplicação das TICs em seus processos gerenciais e operacionais, elevando seu nível de desempenho funcional, mas ainda, por razões da conjuntura político-gerencial, sentem dificuldades em adotar plenamente este novo modelo, que configura o salto de qualidade das bibliotecas tradicionais para as bibliotecas modernas.

O CONHECIMENTO, A UNIVERSIDADE, A BIBLIOTECA:
conceituação, caracterização, estrutura e missão

Analisar a relação universidade/biblioteca como agências sociais, organizadas para atender às necessidades da comunidade acadêmica e da sociedade em geral, leva a considerar-se que dessa relação surge uma unidade organizacional que reúne os princípios da biblioteca e os da universidade, em diferentes momentos históricos e posicionamentos sociais.

A biblioteca universitária já nasce subordinada a uma instituição de ensino superior, com a função específica de apoiar as atividades desta instituição. Seu papel é contribuir decisivamente para o ensino, a pesquisa e a extensão, assumindo, assim, a função social de prover a infra-estrutura documental e promover a disseminação da informação, em prol do desenvolvimento da educação, da ciência e da cultura.

Partindo da premissa de que a essência da universidade é gerar conhecimento e que, para este fim, depende dos recursos informacionais, geridos pela biblioteca, pode-se dizer que há uma perfeita simbiose entre a biblioteca e a universidade, que fecha um ciclo, no qual uma produz e a outra registra a produção acadêmica e a divulga, promovendo a transferência e a aplicação da informação. Sendo assim, a biblioteca universitária tem papel destacado na produção e difusão de conhecimento na universidade, pois é em seu âmbito que o processo começa e termina. Ou seja, a comunidade acadêmica consulta a biblioteca para produzir conhecimento e, posteriormente transfere a sua produção, por meio de algum recurso de informação à biblioteca universitária. Este ciclo pode ser visualizado a partir da ilustração a seguir:


Figura 1

Integração Universidade X Biblioteca

PRODUTO: UNIVERSIDADE MATÉRIA PRIMA:

CONHECIMENTO BIBLIOTECA INFORMAÇÃO

UNIVERSITÁRIA

A biblioteca é parte e resultado da sociedade com a qual interage. A característica histórica, social, cultural, política e econômica do país reflete-se no planejamento e desenvolvimento de suas metas e objetivos a serem cumpridos.

Para analisar e compreender as características da biblioteca universitária faz-se necessário o entendimento prévio da universidade, como uma organização hierárquica e complexa, de caráter social, educativo, político, econômico e tecnológico.

A universidade é uma organização social, que interage com o meio ambiente interno e externo, de forma dinâmica, no tempo e no espaço. A universidade brasileira foi reestruturada de acordo com a filosofia e diretrizes da Reforma Universitária, datada de 1968-1969, que se estabeleceu para legitimar um momento político que o país vivia.

A Reforma Universitária marcou o momento de mudanças e desenvolvimento nas universidades brasileiras, tendo traçado os seus novos objetivos de ensino, pesquisa e extensão em consonância com os propósitos do desenvolvimento nacional, responsabilizando-as pelas atividades de planejamento e oferta do ensino da ciência e da tecnologia.

A biblioteca universitária, como parte integrante da instituição universidade, deveria seguir os seus princípios, de forma homogênea e compromissada com o desenvolvimento nacional e com a formação do indivíduo.

Do ponto de vista funcional, a biblioteca universitária, por sua vez, é caracterizada como uma organização prestadora de serviços de informação, em apoio às atividades de ensino, pesquisa e extensão, aos docentes, discentes e pesquisadores da universidade.






AS DIFICULDADES, A FALTA DE APOIO DO GOVERNO E DAS INSTITUIÇÕES MANTENEDORAS

A biblioteca universitária sempre sofreu grandes dificuldades para desenvolver o seu papel, principalmente no que diz respeito à apropriação de verbas que viabilizem o andamento de suas atividades. Deste modo, o progresso das bibliotecas foi marcado por dificuldades, nos mais diferentes níveis, enfrentadas pelas próprias universidades ao longo de sua história.

Qualquer abordagem da nossa universidade passa, necessariamente, pela questão mais geral da educação no Brasil, função freqüentemente relegada a segundo plano pelos governantes brasileiros, ou vítima de concepções redutoras de seu significado para a formação do ser humano (SANTANA, 1989, p. 36)

Esse contexto, marcado pelas décadas de 50 e 60, exterioriza a priorização dos planos governamentais do país, focados nos interesses econômicos, incluindo a educação em algumas metas, porém sem desenvolver avanços significativos nesta área. Destacam-se os escassos recursos destinados ao setor público de ensino superior, como a implementação de medidas educacionais contrárias aos interesses da nação.

Segundo Santana (1989) percebia-se que a falta de incentivos e medidas governamentais que viesse a favorecer o desenvolvimento do setor educacional contribuiu para que não se houvesse estabelecido a necessária articulação entre a universidade e o setor produtivo e para que a sua oferta de serviço de extensão à comunidade fosse bastante insatisfatória, a tal ponto que, naquele momento, ela corria sérios riscos de tornar-se uma instituição de pouco peso para o país, caso não se alterasse este estado de coisas.

Na fase da Nova República, o governo brasileiro reconhece a situação preocupante das universidades do país, ao afirmar que:

Os orçamentos universitários são insuficientes; as atividades de pesquisa são escassas e os recursos a elas destinados têm sofrido redução considerável; muitos dos equipamentos de pesquisa encontram-se inutilizados; e laboratórios e bibliotecas estão deteriorados. (SANTANA, 1989, p. 37).

Segundo Santana (1989), eram muitos os entraves burocráticos na busca do financiamento para o desenvolvimento de produtos acadêmicos, o que prejudicava a existência de canais efetivos de comunicação da informação, tanto na dimensão interna quanto na dimensão externa da universidade. Deve-se ressaltar aqui a importância da transferência da informação de boa qualidade no estímulo não só à pesquisa, como também às atividades acadêmicas como um todo, portanto a inexistência destes recursos comprometia o nível de desempenho da instituição.


Conforme Heemann (1996, nos últimos anos as verbas para as universidades, principalmente as públicas, foram reduzidas, resultando em cancelamento, interrupções e reestruturação de prioridades nos seus diversos setores. O planejamento baseado nos aspectos técnicos, com a priorização dos serviços que atendam a toda instituição acadêmica e que gerem um efeito multiplicador de resultados, como, por exemplo, o investimento nas bibliotecas universitárias, tem sido esquecido e gerado enormes distorções. Estas são percebidas pela dificuldade dos setores da instituição acadêmica em cumprir a sua missão, o desenvolvimento dos seus serviços que dão suporte as atividades de ensino, pesquisa e extensão, serviços estes que deveriam ser traçados como prioridade da política global da universidade, e não dividir seus orçamentos com necessidades setoriais dos grupos considerados mais fortes.

Ao ser criado, em 1963, o Conselho Federal de Educação (CFE) estabeleceu a importância da vinculação da biblioteca universitária como um suporte informacional aos cursos superiores para obterem o seu reconhecimento. Porém, o crescimento da universidade e conseqüentemente, da sua biblioteca, não aconteceu de forma harmoniosa, e sim com muitas desigualdades.

Por exemplo, segundo Santana (1989), no que se refere à aquisição e seleção do acervo, até a década de 80, não existia ainda uma política de formação, seleção e desenvolvimento de coleções; a maioria das bibliotecas universitárias sequer adquiria materiais informacionais visando o oferecimento de suporte realmente adequado aos cursos oferecidos pela universidade, às suas linhas de pesquisas e atividades de extensão; faltava-lhes, também, uma comissão de seleção integrada por bibliotecários e por representantes dos corpos docente e discente.

Este posicionamento de Garcia corrobora esta realidade.

A partir da crise econômica que se abateu sobre o Brasil, após a década de 80, que teve como reflexos o processo inflacionário e a diminuição dos orçamentos do setor público, as universidades passaram a conviver com restrições orçamentárias que influenciaram diretamente o desenvolvimento das bibliotecas (GARCIA apud RUSSO, 1991 p. 3).

Tarapanoff (1996) informa que os problemas enfrentados pelas bibliotecas universitárias vêm sendo destacados, desde 1974, com a realização do Seminário para Estudos dos Problemas de Administração e Funcionamento das Bibliotecas Universitárias, bem como nos SNBUs, que acontecem a cada dois anos, desde 1978. Tarapanoff chama a atenção para o fato de que estes problemas são recorrentes, ou seja, sempre voltam à pauta nos seminários, embora, anteriormente tenham sido apontadas as possíveis soluções. Cotejando as recomendações dos diversos SNBUs e aplicando uma entrevista entre profissi


onais da área, a autora aponta as seguintes dificuldades: falta de apoio dos níveis hierárquicos da universidade para o desenvolvimento das bibliotecas universitárias; carência de recursos humanos, materiais e financeiros; falta de investimento na capacitação de pessoal; falta de políticas organizacional e funcional voltadas para a biblioteca universitária; falta de representação nos órgãos colegiados da universidade; não-envolvimento da biblioteca universitária com a missão da universidade e com o corpo docente; falta de planejamento cooperativo e ausência de práticas de cooperação; proliferação de bibliotecas setoriais sem condições adequadas de funcionamento; recursos financeiros gerenciados de forma inadequada; insuficiência de estudos de avaliação de desempenho, serviços e coleções; ausência de planejamento e desempenho de atividades de forma padronizada.

AS MUDANÇAS, OS AVANÇOS, OS PROGRESSOS

A Reforma Universitária de 1968-1969 marcou o momento crítico de transição e desenvolvimento da universidade brasileira de hoje. Com a reforma, novos objetivos da universidade foram determinados, enfocados no ensino, pesquisa e extensão, com o intuito de vinculá-los ao âmbito econômico de desenvolvimento nacional, por meio da produção e disseminação da ciência e tecnologia.

A universidade, bem como a biblioteca universitária, segue os princípios e diretrizes traçados pela Reforma, com duas vertentes a serem analisadas: a dimensão externa, que compreende a responsabilidade social da universidade e seu esforço em direção ao desenvolvimento nacional; a dimensão interna, compreendendo as modificações e modernizações na estrutura e nos objetivos da própria universidade.

A dimensão externa inclui a orientação de que a universidade, como uma organização, não deve apenas se relacionar, mas fazer parte do seu meio ambiente devendo agir como um instrumento para o desenvolvimento total do homem e do país.

De acordo com essa orientação a biblioteca universitária deve ser vista como parte da sociedade na qual esta inserida e envolvida; integrar-se com o seu meio ambiente externo tanto geral como específico; preocupar-se com as funções e atividades da universidade a qual pertence;

preocupar-se com o indivíduo, membros da população universitária, no desempenho de suas atividades acadêmicas e administrativas, centrando nele as suas atividades e relacionando-o com o seu meio ambiente, tanto geral como especifico

Sob a orientação da Reforma, a biblioteca universitária devia planejar os seus serviços em relação aos novos objetivos da universidade, de ensino, pesquisa e extensão; inte


grar-se ao sistema acadêmico, opondo-se ao conceito de biblioteca isolada; introduzir os princípios de centralização, coordenação e cooperação, para poder seguir a orientação administrativa de evitar a duplicação de meios para fins idênticos ou similares, e de racionalidade administrativa com plena utilização de materiais e recursos humanos.

A Reforma Universitária, no entanto, não concebeu nenhuma diretriz inovadora para as bibliotecas universitárias brasileiras, deixando para os profissionais bibliotecários a interpretação e adequação da biblioteca a esse novo contexto organizacional acadêmico.

Os diretores de bibliotecas centrais brasileiras, motivados pela conscientização da necessidade de se criar uma comissão nacional para explanar os problemas de desenvolvimento de bibliotecas universitárias, formaram o grupo de implantação da Comissão Nacional de Diretores de Bibliotecas Centrais Universitárias, datada de 1972.

Em 1973, este mesmo grupo criou a Associação Brasileira de Bibliotecas Universitárias (ABBU), cujos objetivos principais eram enfocados na necessidade de: analisar os problemas das bibliotecas universitárias brasileiras relacionados com a necessidade de formular uma política nacional para o seu desenvolvimento; colaborar com os setores nacionais e regionais responsáveis pelo ensino superior, visando à difusão e ao adequado aparelhamento das bibliotecas universitárias; difundir a necessidade de melhoria dos padrões das bibliotecas universitárias brasileiras desenvolvendo estudos, projetos e programas em torno de temas centrais de coordenação e racionalização, bem como incentivando o aperfeiçoamento cultural e técnico dos profissionais a ela vinculados; promover a integração e coordenação de esforços entre as bibliotecas universitárias incentivando o intercâmbio de experiências, de informação e de material documentário.

É notório que a ABBU compreendeu a filosofia da Reforma, propondo-se a ser a pioneira como associação comprometida em estudar os reais objetivos das bibliotecas universitárias brasileiras, através de planejamento e gerenciamento de atividades. Com o passar dos anos a ABBU foi expandindo o papel e a importância das bibliotecas universitárias brasileiras, de acordo com o contexto social, econômico e político de cada época, na promoção de seminários, palestras encontros, congressos, etc.

Em 1986, com a criação do Programa Nacional de Bibliotecas Universitárias (PNBU) foram abertas novas perspectivas para as bibliotecas universitárias brasileiras. Este programa traçou diretrizes e ações objetivando mudanças significativas para esse setor, sendo necessário ressaltar as metas mais importantes: estabelecimento de um percentual mínimo orçamentário da universidade a ser investido no sistema de bibliotecas; aperfeiçoamento e atualização continua do profissional bibliotecário e auxiliares, (pessoal de apoio); elaboração de instrumentos que auxiliem a biblioteca universitária na elaboração


da política de formação e desenvolvimento de coleções do acervo; estabelecimento de normas, padrões e metodologias que propiciem um eficiente processamento técnico; estabelecimento de uma rede de intercâmbio de dados bibliográficos e documentários, com a contribuição de um banco de dados central de grande porte, visando a catalogação cooperativa, o empréstimo interbibliotecario, a comutação bibliográfica, etc.; divulgação de metodologias para o relato das necessidades de informação dos usuários, previamente identificados; integração das bibliotecas universitárias em programas de cooperação, aquisição, sistemas especializados, etc.

Da sua criação aos dias atuais, o PNBU desenvolveu inúmeras propostas e processos modernizadores que vieram beneficiar a reestruturação das bibliotecas universitárias com melhorias nos serviços prestados aos usuários e nas suas atividades funcionais.

Embora o PNBU sinalizasse propostas de modernização para a biblioteca universitária, não se pode deixar de considerar o aspecto sociopolítico e a crise econômica que abalava o Brasil, tendo refletido na execução de seus projetos.

O DESENVOLVIMENTO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA A PARTIR DA APLICAÇÃO INTENSIVA DAS NOVAS TECNOLOGIAS (TICs)

As Bibliotecas universitárias aderiram ao uso intensivo das TICs. Na atualidade além da existência física as bibliotecas são digitais e virtuais, não precisando, necessariamente, do espaço físico, apresentando-se como um conjunto de mecanismos eletrônicos, voltados à facilidade e agilidade na localização da demanda da informação, interligando recursos e usuários, estando, pois, isenta dos problemas enfrentados pela biblioteca tradicional, referente à localização, aos processos técnicos biblioteconômicos (aquisição, catalogação, classificação) e ao armazenamento dos documentos. A biblioteca moderna assume agora a preocupação com o acesso e padronização dos fluxos, que permitam ao usuário encontrar o caminho através dessa massa de recursos disponíveis.

Dentre os reflexos oriundos do uso intensivo das novas tecnologias TICs pelas bibliotecas universitárias, no sentido de consolidar sua missão na universidade, participando de forma ativa na construção e difusão do saber, são representativos: a minimização de esforços e de tempo no que se refere ao processo de registro de dados, facilitando e agilizando o acesso da informação pelos usuários (professores, alunos e pesquisadores); a reciclagem e atualização do profissional bibliotecário no desenvolvimento de suas atividades, em função das inovações tecnológicas, oferecendo dessa forma, um atendimento mais qualificado aos usuários; a maior independência do usuário, no que tange ao auto-monitoramento de suas pesquisas bibliográficas e de consulta ao acervo; a ampliação do universo de busca da informação para o usuário, ao compartilhar recursos


informacionais entre bibliotecas; a redução do tempo gasto pelo usuário em suas consultas às pesquisas bibliográficas e ao acervo; o maior número de consultas de pesquisas simultâneas pelos usuários aos catálogos da biblioteca; a facilitação dos serviços bibliotecários referentes ao empréstimo entre bibliotecas, o COMUT, a busca bibliográfica em outras bases de dados; a otimização da qualidade do acervo, a partir de análise de dados por computador, referentes ao uso e a completeza das coleções, etc.

As TICs propiciaram melhorias nos serviços das bibliotecas universitárias nos seguintes campos:

a) Instalações Físicas: o espaço físico e as instalações puderam ser reduzidos significativamente, tanto para o armazenamento de acervos como também para prover serviços aos usuários, em razão da crescente automação dos serviços de processamento de informação e de atendimento ao usuário, além do surgimento e do uso de mídias compactas, como cd-rom, disquetes, textos eletrônicos e dos recursos de rede.

b) Serviços de Desenvolvimento de Coleções e Aquisição: marca o momento de integração crescente das fontes eletrônicas aos acervos e serviços existentes. A disponibilidade de catálogos e bibliografias em suportes eletrônicos agiliza o processo de seleção dos documentos informacionais. A facilidade de consulta a lançamentos no mercado editorial, aquisição de materiais informacionais, nos mais variados suportes, on-line e pela Internet, a interação das coleções de periódicos, diretórios e enciclopédias, em suporte digital, são processos que vieram facilitar o trabalho do profissional bibliotecário responsável pelo setor de aquisição de materiais bibliográficos, independentemente da variedade do suporte físico, permitindo ao bibliotecário a escolha do suporte físico do material (impresso ou eletrônico), de acordo com a sua necessidade.

c) Processo Técnico: com a utilização das novas tecnologias, principalmente com o uso da Internet, surgiram outros formatos de documentos a serem processados pelo bibliotecário responsável pelo processamento técnico. Esses documentos estão estimulando as inovações de padrões para a exata descrição dos formatos e para melhorar os requisitos para a estratégia de busca e o seu uso. O tratamento automatizado da informação amplia as possibilidades de pontos de acesso a um determinado documento. Nos catálogos tradicionais e nos catálogos automatizados do inicio da década de 90, as descrições mínimas cadastradas restringiam-se ao nome do autor, título e algumas palavras-chaves. Na atualidade, podem ser incluídas dezenas de termos de indexação, em diversos níveis de representação do documento, gerando, dessa forma, um maior grau de flexibilidade e quantidade na procura e na recuperação da informação. Com o surgimento do serviço em redes de catalogação cooperativa e o


desenvolvimento de programas de automação por inúmeras instituições superiores, juntamente com a incorporação de formatos compatíveis e permutáveis, minimizou-se, significativamente, o tempo gasto pelo bibliotecário com os serviços técnicos, tendo sido proporcionado maior segurança no que se refere ao tratamento da informação documental a ser indexada, na busca e na recuperação da informação. Os sistemas de automação preparados para as atividades técnicas, além de auxiliarem os processos de catalogação, classificação e indexação facilitam, sobremaneira, a obtenção de informações relacionadas ao controle da aquisição, e do patrimônio, indicação de produção intelectual, etc. A disponibilidade dos catálogos automatizados abrange uma gigantesca quantidade de usuários que podem vir a interessar-se pela obtenção das informações contidas nessas bases de dados.

d) Serviços e Produtos: de modo geral, o gerenciamento dos serviços da biblioteca ganharam impulso com o uso de sistemas informatizados. Os modernos recursos de informação gerados pelas TICs possibilitam de forma ilimitada a acessibilidade da informação, promovendo um processo de disseminação da informação mais efetivo. A prova disso é a comparação que se pode fazer entre os antigos catálogos pouco interativos e limitados na estrutura e no acesso, inadequados e inoperantes no atendimento das necessidades do usuário com os atuais bancos e bases de dados on-line e em CD-ROM. Em contraste com os exaustivos e emperrados sistemas tradicionais de recuperação da informação, as bibliotecas hoje contam com as soluções tecnológicas baseadas em rede, que lhes permitem disponibilizar seu acervo a distância, bem como captar informações remotamente.

Com tais recursos, pode-se efetuar levantamento bibliográfico em bancos e bases de dados de cunho científico das mais diversas áreas por meio de recursos on-line ou em CD-ROM. Neste sentido, objetivando ampliar o acervo das bibliotecas universitárias, a CAPES se conveniou a várias bases de dados criando o Portal de Periódicos Capes. O Portal reúne bases de dados referenciais e outras com texto integral. A consulta a estes bancos e bases de dados exige o domínio de ferramentas apropriadas e a elaboração de estratégias de busca, a fim de otimizar o recurso informacional. A disponibilização do Catálogo Coletivo Nacional (CCN) e da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), por meio do Programa COMUT pela Internet, tornou muito mais ágil o procedimento de aquisição dos documentos das bases referenciais, mediante o uso do Programa receptor Ariel. Com estas soluções tecnológicas, o serviço de disseminação seletiva da informação (DSI) tornou mais rápida a busca e a divulgação da pesquisa solicitada pelo usuário, via internet e intranet.


Observa-se que os reflexos gerados pelo uso das TICs, de forma intensiva e gradual, somado à crescente produção científica em todas as áreas do conhecimento, gera a necessidade de permanente avaliação das atividades da biblioteca, objetivando o alinhamento da prestação de serviços com os interesses da comunidade acadêmica.

Por outro lado, o perfil do profissional bibliotecário deve ser redefinido a fim de torná-lo apto a gerenciar os recursos de informação hoje disponíveis.

PESQUISA EXPLORATÓRIA: discussão dos resultados

Apresentam-se aqui os resultados obtidos com a aplicação da pesquisa exploratória, ao tempo em que faz-se a confrontação dos aspectos abordados na fundamentação teórica com estes resultados A amostra se caracterizou pela intencionalidade uma vez que foram pesquisadas as bibliotecas de universidades baianas que vivenciaram os momentos anterior e posterior à implantação das TICs.

A partir da pesquisa, identifica-se que as bibliotecas universitárias escolhidas foram automatizadas a partir de 1992, período este considerado retardatário, pois, ao comparar o período de introdução das novas tecnologias nas bibliotecas com os de outros setores da sociedade, percebe-se que o acesso a essas tecnologias aconteceu muito mais cedo em outros setores. No entanto, é válido ressaltar que, justamente a universidade, uma instituição educacional compromissada em gerar e difundir conhecimento teve suas bibliotecas como um dos últimos setores do âmbito social a aderir a esse novo instrumento de gestão da informação.

Quanto ao desempenho dessas bibliotecas antes da aplicação das TICs, os entrevistados relataram que os trabalhos técnicos eram feitos manualmente, sem a devida padronização, de forma lenta e com o acesso limitado à informação. A literatura confirma esse fato ao deixar transparecer que as bibliotecas universitárias, antes da adoção das TICs e aquelas que ainda hoje não aderiram ao uso intensivo destas tecnologias, apresentam deficiências e ineficácia no desenvolvimento de suas atividades meio e fim. Sinaliza também, que os catálogos tradicionais são defasados, pouco interativos e limitados, mostrando problemas na estrutura e no acesso à informação.

No que tange ao benefício trazido pelas TICs na prestação de serviços dessas bibliotecas, os entrevistados afirmaram que, com o uso das novas tecnologias, aconteceu mudanças tanto para os profissionais como também para o desenvolvimento de suas atividades técnicas. A literatura assiná-la como mudanças: aumento de acessibilidade da informação; maior agilidade e precisão na execução de tarefas; minimização de tempo e de esforços - pois o processamento técnico é realizado através de sistema automatizado de catalogação e classificação cooperativa, obedecendo às novas técni


cas de preparo da informação; consultas simultâneas aos catálogos automatizados; ampliação do universo de busca - maior variedade nos recursos de busca; acesso à base de dados nacionais e internacionais; compartilhamento de recursos informacionais entre bibliotecas; empréstimo entre bibliotecas; sistema de comutação bibliográfica; maior controle da circulação de materiais; crescimento da variedade opcional dos suportes; entre outros, que vieram facilitar o acesso e a localização da informação, otimizando estratégias de buscas focadas no objetivo de disponibilizar o acervo com maior rapidez e eficácia.

Em relação à contribuição da biblioteca universitária para que a universidade cumpra a sua missão, os entrevistados relataram que as TICs vieram facilitar a difusão do conhecimento e, deste modo, ratificar o papel fundamental das bibliotecas universitárias, de disseminar informações. Afirmaram ainda que, com a automação dos sistemas de bibliotecas, e depois com a instalação das redes digitais, tornou-se possível o acesso à base de dados nacionais e internacionais, o intercâmbio de informações, possibilidade de consulta a maior número de fontes, o acesso ao catálogo, on-line e interativo, da biblioteca pelos usuários. A literatura ainda acrescenta que, com o uso das novas tecnologias, as bibliotecas universitárias conseguiram dinamizar e otimizar o desenvolvimento de suas atividades e cumprir a sua missão principal - a atividade-fim de apoiar o ensino, a pesquisa e a extensão no ambiente acadêmico. Dessa forma, as bibliotecas seguem os mesmos princípios da universidade: o compromisso com o desenvolvimento nacional e com a formação do indivíduo.

Os entrevistados vieram ratificar o que a literatura já havia sinalizado, que, com a introdução e o uso intensivo das TICs, as bibliotecas universitárias passaram por um processo de transformação que impactaram o seu modus operandi, forçando sua reorganização, de modo a se alinhar aos novos modelos de gerenciamento da informação, levando-a a prestar melhor serviço a sua comunidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se tanto na literatura como no relato dos entrevistados o papel de destaque que a biblioteca universitária galgou como meio propulsor da evolução da qualidade da educação superior. Nos últimos dez anos, a adoção de soluções de tecnologia da informação e da comunicação nos seus processos de gerenciamento e difusão da informação contribuíram decisivamente para que as bibliotecas universitárias brasileiras melhorassem os seus padrões funcionais e assim influíssem mais significativamente nos resultados das universidades.


Apesar de sua fase de evolução ter sido lenta e difícil, registrou-se o fortalecimento e a diversificação do seu acervo bibliográfico por meio de novas aquisições e adoção de novas modalidades de acesso à informação, a ampliação e refinamento dos serviços e produtos dirigidos a seu público-alvo e a introdução de meios facilitadores e promotores de sua interação com a comunidade acadêmica.

É mister destacar a visão empreendedora dos profissionais que agindo conjuntamente, ganharam o apoio dos órgãos governamentais e conseguiram implantar uma política cooperativa e de integração, que fortaleceu a ação e o patrimônio das bibliotecas universitárias brasileiras.

Apesar dos avanços conseguidos as bibliotecas universitárias têm de procurar acompanhar as inovações tecnológicas que podem ajudá-la a melhor gerir os recursos informacionais e a interagir mais intimamente com sua comunidade, contribuindo para o enriquecimento dos seus planos de estudo, pesquisa e extensão, sob pena de realizar um serviço anacrônico, sem utilidade para a comunidade acadêmica, que, cada vez mais, torna-se autônoma na busca da informação, caindo assim no ostracismo.

Para tanto, é preciso também que haja investimento permanente na formação de seu quadro de pessoal, no acervo documental e no aparato tecnológico voltado ao proces-samento e disseminação da informação.

Por fim, é importante ressaltar a necessidade de se estabelecerem padrões avaliativos que possibilitem a medida mais efetiva do desempenho das bibliotecas universitárias brasileiras.

NOTAS

* Bacharel em Biblioteconomia e Documentação (ICI/UFBA), Universidade Federal da Bahia

** Diplôme d'Études Approfondies en Information Scientifique et Technique

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